O intercambista que chega à Austrália pode enfrentar uma série de desafios emocionais devido às mudanças significativas em seu ambiente e à transição para uma nova cultura. É o que afirma a psicoterapeuta Angelica Lopes, que mora e atua há mais de dez anos em Perth e já atendeu muitos imigrantes que passaram por isso.  

Nesse post ela vai nos falar sobre os principais desafios emocionais enfrentados por estudantes na Austrália e como lidar com eles de forma que não prejudiquem a experiência do intercâmbio.

Angelica Lopes é psicoterapeuta clínica e supervisora. Vive e atua em Perth há mais de dez anos e já atendeu muitos pacientes que passaram pelas dificuldades de adaptação.

Desafios iniciais

Muitos estudantes brasileiros relatam que os principais desafios nos primeiros meses de intercâmbio estão relacionados à dificuldade de ajuste a um novo ambiente, o que inclui encontrar moradia, se adaptar a dividir casa com pessoas de hábitos diferentes, ter que realizar todas as atividades domésticas além de estudar e trabalhar, navegar pelo sistema educacional ou de trabalho, que é diferente do Brasil, entre outros aspectos práticos do cotidiano, que quando vividos todos de uma vez podem exigir uma rápida resposta de adequação ao novo. Esses desafios na fase de adaptação podem afetar a saúde emocional e aumentar os níveis de estresse.

Conforme o tempo vai passando, outros desafios emocionais são vivenciados, como a dificuldade de se expressar adequadamente na língua inglesa e entender as nuances da cultura australiana, o que pode causar frustração e levar a sentimentos de incompetência e inadequação. 

Com isso, alguns podem experimentar sentimentos intensos de nostalgia e saudade das pessoas e relações sólidas que tinham no Brasil, o que pode levá-los a focar mais no que sentem falta do Brasil do que na abertura e empenho para construir novas conexões sociais nesse novo lugar.

Angelica destaca que “a mudança para uma nova cultura traz consigo a necessidade de se adaptar a diferentes costumes, valores e formas de interação social. É esperado que alguns se sintam desorientados e tenham uma dificuldade inicial de compreender e se ajustar às normas culturais locais, o que pode gerar ansiedade e desconforto”. 

Como lidar com esses desafios

Para conseguir passar pelo momento de dificuldade de adaptação no início do intercâmbio, Angelica sugere algumas ações que podem tornar o processo um pouco mais leve e possível de lidar: 

  •  Se conecte com outros intercambistas: Através de eventos e atividades destinados aos estudantes internacionais você vai conhecer pessoas que estão na mesma situação que a sua. Compartilhar suas experiências, desafios e emoções pode te trazer conforto e proporcionar um senso de comunidade.
  •  Busque grupos de apoio: Podem ser grupos presenciais ou comunidades online de estudantes internacionais na Austrália, onde você pode compartilhar suas preocupações, fazer perguntas e receber apoio de pessoas que estão passando ou já passaram pela mesma experiência.
  •  Cultive hábitos saudáveis de autocuidado: Dedique tempo para cuidar de si mesmo(a), tanto física quanto emocionalmente. Pratique exercícios físicos, adote técnicas de relaxamento, meditação, durma o suficiente, alimente-se bem e participe de atividades que lhe tragam prazer e bem-estar.
  •  Esteja aberto(a) a novas experiências: Encare os desafios como oportunidades de crescimento e aprendizado. Tente adotar uma mentalidade aberta, aceitando as diferenças culturais e buscando entender e apreciar a cultura e o estilo de vida australianos.
  •  Defina metas realistas: Estabeleça metas possíveis para você, tanto acadêmicas quanto pessoais. Isso te ajudará a manter o foco e a motivação, proporcionando um senso de realização à medida em que alcança seus objetivos, o que pode acontecer aos poucos.
  •  Conheça os recursos disponíveis: Informe-se sobre os serviços de apoio oferecidos pela instituição de ensino onde estuda, como aconselhamento, orientação e programas de integração para estudantes internacionais. Se familiarize com os recursos comunitários disponíveis, como centros de apoio aos imigrantes e grupos de apoio. Além disso, em cada estado e território da Austrália há um órgão do governo voltado para estudantes internacionais, que oferece inclusive suporte emocional a quem precisa. Pesquise aqui.

Como saber se é necessário pedir ajuda?

Aqui está um ponto delicado, já que muitas pessoas demoram a entender que precisam de ajuda quando se torna difícil lidar sozinho(a) com os desafios emocionais. 

Angelica faz o alerta: “Se esses desafios são constantes ou se tornarem muito intensos, considere buscar orientação profissional pontual ou terapia. Um profissional qualificado pode te ajudar a explorar suas emoções, desenvolver habilidades de enfrentamento e encontrar estratégias eficazes para lidar com os desafios que você enfrenta.” 

Ela lista algumas indicações de que pode ser necessário buscar ajuda:

  •  Prejuízo nas atividades diárias: Se os desafios emocionais estão afetando sua capacidade de realizar normalmente atividades importantes da sua rotina, como estudos, trabalho, interação nos relacionamentos ou cuidados pessoais, é um sinal de que pode ser necessário buscar apoio.
  •  Persistência dos sintomas: Se você está enfrentando dificuldades emocionais que persistem por um longo período de tempo e interferem significativamente em sua vida cotidiana, como tristeza intensa, ansiedade constante, isolamento social ou dificuldade de concentração, é recomendado buscar ajuda profissional.
  •  Isolamento e falta de apoio: Se você se sentir isolado(a), sem uma rede de apoio adequada ou sem alguém com quem compartilhar suas preocupações e emoções, buscar ajuda profissional pode fornecer o suporte necessário.
  •  Agravamento dos sintomas: Se os sintomas emocionais estão piorando ao longo do tempo, em vez de melhorar, é importante considerar buscar ajuda profissional para avaliar e tratar adequadamente a situação.

Como buscar ajuda?

Angelica destaca que há várias formas de um estudante internacional buscar ajuda qualificada na Austrália, e cita algumas delas: 

  • Serviços de saúde da instituição de ensino: Muitas universidades e instituições de ensino superior oferecem serviços de “counselling” e suporte aos estudantes internacionais. Entre em contato com o departamento de saúde ou serviços estudantis para obter informações sobre os recursos disponíveis e agendar uma consulta.
  • Contatos pessoais e redes de apoio: Se você já estabeleceu contatos pessoais ou possui uma rede de apoio local, considere conversar com essas pessoas sobre suas dificuldades. Elas podem oferecer suporte emocional, conselhos ou até mesmo te indicar algum profissional que conhecem e que possa te ajudar.
  • Psicólogos e Psicoterapeutas privados: Buscar um profissional particular é uma opção comum. Pesquise profissionais que tenham experiência no acompanhamento de intercambistas e imigrantes.
  • Serviços comunitários de saúde mental: Existem organizações sem fins lucrativos, clínicas comunitárias e centros de saúde que oferecem serviços acessíveis para pessoas em situação de necessidade emocional.
  • Helplines: Existem plataformas digitais que oferecem suporte psicológico remoto, como chats ou videochamadas com profissionais qualificados. Essas opções podem ser úteis, especialmente em momentos de crise. 

“Buscar ajuda é um passo corajoso e importante em direção ao cuidado com a sua saúde emocional. Não hesite em procurar os recursos disponíveis para obter o suporte necessário”, lembra Angelica. 

Quanto tempo podem durar os desafios emocionais no intercâmbio

Não há um prazo específico para que as dificuldades de adaptação passem completamente, pois, segundo Angelica, isso depende de diversos fatores, como a personalidade do indivíduo, o suporte disponível, a experiência anterior em lidar com mudanças culturais, entre outros. Além disso, é normal que existam altos e baixos emocionais ao longo do processo de adaptação.

“Muitas pessoas relatam que, com o tempo, e havendo paciência e abertura, as dificuldades da adaptação diminuem e a sensação de pertencimento e conforto em um novo país aumenta”, explica Angelica.  

Segundo ela, é possível gradualmente desenvolver uma rede de apoio, se familiarizar com a cultura local, aprimorar suas habilidades linguísticas e se sentir mais confiante em seu novo ambiente. 

E completa: “O suporte emocional, a conexão com outras pessoas e a busca de atividades que tragam conforto e familiaridade podem ajudar no processo de adaptação. Com o tempo, é possível superar as dificuldades iniciais e desfrutar de uma experiência enriquecedora e gratificante durante o intercâmbio”. 

Intercâmbio é para todos?  

Angelica lembra que existem várias formas de explorar o mundo e expandir os horizontes: viagens pontuais a lazer ou trabalho, programas de voluntariado, intercâmbio de curta duração para estudar a língua local e intercâmbios mais estruturados, de maior duração, para fazer cursos mais longos, sejam eles técnicos, universitários ou de pós-graduação. 

“Creio que ao reconhecer e respeitar as suas preferências e limitações individuais, você conseguirá escolher uma forma de viver a experiência de viagem ou intercâmbio alinhada com as suas características e objetivos. O mais importante é buscar aquilo que faz sentido para as suas circunstâncias, para desfrutar da melhor forma possível dessa oportunidade”, conclui.

Foto principal: Andrea Piacquadio / Pexels

Sobre o autor

Mariana Gotardo

Mariana Gotardo é jornalista com experiência de mais de 20 anos em TV no Brasil. Já foi repórter, apresentadora e editora. Desde 2015 mora na Austrália e produz conteúdo sobre intercâmbio em texto e vídeo.

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