Desde o dia 1º de março de 2023 há novos requisitos para o transporte de cães e gatos para a Austrália. Isso afeta principalmente o tempo que alguns animais de estimação tem que passar em quarentena.

Entre as novas regras, a que mais afeta os pets brasileiros que vão para a Austrália é a seguinte: cães e gatos não devem ter residido em países não aprovados (o Brasil está entre eles) durante os 180 dias anteriores à exportação para a Austrália. 

Ou seja, quem vai levar o(s) pet(s) do Brasil para o país da Oceania deve enviar o animal para um outro país aprovado pelo governo australiano por pelo menos seis meses, para que em seguida ele possa entrar na Austrália.

Isso encarece e aumenta o tempo do processo de transporte do bichinho, e consequentemente torna maior o período de distância entre o animal e seu(s) dono(s). Antes de março de 2023 o prazo do processo era de 60 a 180 dias.  

No caso da Sara e do Pedro, casal que chegou em Sydney em janeiro de 2022, onde a Sara está cursando um mestrado, o tempo que ficaram longe do Balthazar, o cachorro deles, devido ao processo de “cuidados a serem tomados para que o vírus da raiva e outras doenças não entrem na Austrália” foi de quatro meses no total, pois ele chegou no país em junho de 2022, antes das novas regras entrarem em vigor. 

Nesse tempo o Balthazar passou um bom período em quarentena em Buenos Aires, já que a Argentina pertence ao Grupo 3 (países e territórios aprovados nos quais a raiva está ausente ou bem controlada) perante o Departamento de Agricultura, Pesca e Florestas da Austrália.

Neste link é possível conferir com detalhes as novas medidas relativas à exportação/importação de cachorros e gatos para a Austrália. 

Neste post a gente conta um pouco da história da vinda do Baltha (como é carinhosamente chamado pela Sara e pelo Pedro) para a terra dos cangurus. 

Decisão de levar o Balthazar para a Austrália

O Balthazar é um vira-lata de quase quatro anos de idade, que desde os dois meses vive com a Sara e o Pedro, casal que o adotou depois de ele ter sido resgatado com seus dois irmãozinhos por uma adestradora. 

Quando eu e o Pedro vimos a foto, resolvemos adotar ele na hora! Quando o levamos na veterinária para as primeiras vacinas, descobrimos que ele tinha 2 meses de idade. Nós tínhamos 9 meses de casados e essa foi a melhor decisão que a gente tomou. Ele deu muito trabalho quando filhote, mas também era a alegria de casa”, lembra Sara.

Sobre a decisão de viajar para a Austrália e levar o Balthazar, Sara diz que ela e o Pedro sabiam que o investimento seria alto, mas isso não os desencorajou de ir para o país e nem de levá-lo. Para isso, eles se prepararam financeiramente e planejaram a viagem com bastante antecedência. 

Sara ressalta que a decisão de levar o pet para o país da Oceania teve a ver com o fato de que ela e o Pedro já tinham a intenção de ficar por muito tempo na Austrália. 

“Nosso plano sempre foi ficar a longo prazo, por isso resolvemos trazê-lo. Se fosse para ficar apenas dois anos (o período do meu mestrado) não o teríamos trazido. O processo todo é muito doloroso pro animal, mas como ele é vira-lata (resistente a tudo!) e novinho, as chances dele se adaptar seriam melhores”, destaca Sara. 

Sara e Pedro adotaram Baltha quando ele tinha dois meses. Como sabiam que queriam ficar por um longo período na Austrália, decidiram levá-lo.

Vacinas, exames e escolha das empresas de transporte

Segundo Sara, quem cuidou de todo o processo para que o Balthazar fosse levado para a Austrália foi o Pedro. Ela explica que a primeira coisa que ele fez foi pesquisar as empresas de transporte regulamentadas no site do IPATA (International Pet and Animal Transportation)

“Lá (no site do IPATA) ele encontrou a empresa que faria o transporte de São Paulo para Buenos Aires, e a outra que faria depois de Buenos Aires para a Austrália”. 

Sara explica que Pedro pesquisou no site do Departamento de Agricultura da Austrália (Department of Agriculture, Fisheries and Forestry) como seria a burocracia de levar um animal para o país. 

“Conversamos então com a veterinária do Baltha para ver qual seria o procedimento e iniciamos a sequência de vacinas e testes. Como o Brasil ainda tem muitas doenças endêmicas, como Raiva, Leishmaniose, e a Doença do Carrapato, o processo de vacinação dele teve que começar seis meses antes do início da quarentena após sua chegada na Austrália. Como nós planejamos chegar em Sydney em fevereiro de 2022, iniciamos o processo de vacinação em agosto de 2021”, detalha Sara.

Ela chama a atenção para a importância de se certificar que o veterinário conhece o processo específico para a Austrália, porque caso algo saia errado, perde-se muito tempo.

O processo de vacinas e exames do Balthazar incluiu as seguintes etapas: 

  1. Inserir um chip no cachorro
  2. Três sessões de vacina contra Raiva
  3. Sorologia (em um laboratório certificado pelo Departamento de Agricultura da Austrália)
  4. Duas vacinas contra Leishmaniose

 Enquanto os exames e a vacinação estavam sendo feitos, Sara e Pedro entraram em contato com as empresas para o transporte e acomodação do Balthazar do Brasil até a Austrália. Eles pediram cotação e fizeram reuniões pelo Zoom para entender o processo. 

“Fechamos com a Zoompet/MM Cargo (que fez o transporte de Guarulhos a Buenos Aires) e com a Animates (que cuidou do Baltha em Buenos Aires, de lá até Barcelona e de Barcelona a Melbourne, onde fica o local de quarentena de animais na Austrália). Em Melbourne, o Baltha ainda teve que ficar em observação por dez dias, e depois fechamos com uma empresa local australiana, a Dogtainers, para levá-lo até Sydney”. 

Sara lembra que quando foi chegando mais perto da viagem (40 dias antes), eles iniciaram o processo de adaptação do Balthazar no kennel (caixa para o transporte), o que, segundo ela, para cachorros maiores é muito importante. “Quanto mais cedo, melhor”. 

Sara e Pedro iniciaram o processo de adaptação do Balthazar no kennel (caixa de transporte) 40 dias antes da viagem.

Quarentena e distância

As opções de locais de quarentena para o Balthazar oferecidas pelas empresas contratadas pela Sara e pelo Pedro foram os Estados Unidos, a Argentina, o Chile, ou países europeus. 

“Escolhemos a Argentina porque foi a opção mais barata, e foi em um hotel parceiro da Animates (empresa de transporte). Assim eles poderiam acompanhar o Baltha mais de perto. Nosso plano inicial era morarmos em Buenos Aires pelo tempo da quarentena para manter o Baltha conosco (ele poderia morar com a gente). Mas como meus estudos iam começar em fevereiro, eu não podia atrasar minha entrada no país. Então resolvemos deixar o Baltha ir sozinho para Buenos Aires e vir antes dele para Sydney. Mas o coração ficou apertado”, conta Sara. 

Sara diz que dentro de todo o processo, a distância foi o mais difícil de lidar. Ela explica que inicialmente seriam dois meses que acabaram virando quatro porque eles precisaram esperar a liberação do Import Permit (documento de liberação da entrada do Balthazar no país) pelo governo australiano. 

“A Animates (empresa de transporte) ajudou muito a acalmar os nossos ânimos. Eles mandavam vídeos e fotos com frequência (quase toda semana), e o Balthazar estava sempre brincando, correndo, e parecia muito saudável. O hotel que ele ficou parecia ser em um sítio, com muita grama, espaço pra ele brincar e outros animais por perto (apesar de cada um ter seu próprio espaço)”. 

Foto do Baltha durante a quarentena na Argentina, enviada pela empresa Animates, contratada por Sara e Pedro.

Sobre o reencontro do casal com o filho de quatro patas, Sara relata: “Ele chegou muito cansado da viagem e demorou um pouquinho para reconhecer a nossa voz. Mas quando sentiu nosso cheiro já ficou super agitado dentro do kennel. Assim que chegou em casa, levamos ele para passear, conhecer os arredores, brincamos um pouco, demos um bom banho e ele capotou”. 

Adaptação à nova casa

Quanto à adaptação do Balthazar à nova vida na Austrália, Sara diz que foi até rápida, segundo ela pelo fato de eles morarem em uma casa com quintal em um bairro mais tranquilo de Sydney. 

Mas ela conta que Pedro e ela observaram que depois da experiência da mudança de país e de ter passado pela quarentena, Balthazar ficou mais alerta e mais protetor, latindo muito para outros cachorros na rua e para algumas pessoas também. 

“Fora da coleira ele brinca com todo tipo de cachorro. Como ele não fazia isso no Brasil, vamos iniciar um treinamento com um treinador local. Vai ser até bom treinar ele em inglês para quando precisarmos deixá-lo com algum pet sitter (cuidador) australiano. Mas temos o contato de cuidadores brasileiros em Sydney, o que pode ajudar inicialmente”. 

Sobre as diferenças de ter um pet no Brasil e na Austrália, Sara destaca a necessidade de seguro para o animal de estimação como uma delas, por conta dos valores dos procedimentos na Austrália que são bem mais altos do que no Brasil. 

E ela cita outras diferenças: “os pets aqui são muito bem treinados (há muitas escolas de treinamento de filhotes). Sendo assim, você raramente vai ver um cão desobedecendo seu dono. A identificação na coleira é obrigatória, com multas que variam de AUD 850 a AUD 5,500. Caso o pet se perca e o dono não seja encontrado, ele é levado a um abrigo e o dono será cobrado pelo tempo que o animal ficar lá. O dono é então contactado através dos dados que constam no chip (obrigatório para todo cachorro que vem de fora do país)”. 

Custos da ida do Balthazar para a Austrália

Os custos que se tem com exames, vacinas, transporte e acomodação de um animal de estimação do Brasil para a Austrália podem variar bastante conforme as escolhas dos donos do animal referentes às empresas e prestadores de serviços. 

Os gastos que a Sara e o Pedro tiveram com todo o processo para que o Balthazar pudesse entrar na Austrália e chegar até eles foram os seguintes:

Sorologia (Provet – UK Lab) – BRL 1.500,00

MM Cargo (SP – Buenos Aires) – USD 1,994.00

Animates (Buenos Aires – Melbourne) – USD 14,287.00

Dogtainers (Melbourne – Sydney) – AUD 535.00

Vale a pena? 

A partir da experiência que teve, pedimos para a Sara deixar algumas recomendações aos leitores do nosso site. 

“Primeiro de tudo: pese os prós e contras. Se o pet já tem uma idade mais avançada, se precisa de assistência médica ou toma medicação regularmente, ou ainda se sofre demais quando os tutores não estão em casa, pode ser que a melhor opção seja deixá-lo no Brasil. Outra coisa: certifique-se com a empresa de transporte sobre a raça (e tamanho) do seu pet. Cães de raças propensas a problemas respiratórios, por exemplo, vão ter mais dificuldade.

Segundo: se planeje financeiramente (e com antecedência). Podem surgir surpresas no caminho (como fazer os exames em um laboratório não regulado pelo Departamento de Agricultura da Austrália – o que aconteceu com a gente), ou você pode ter que repetir algum procedimento (caso ele tenha alguma doença que precise ser tratada antes). Mantenha todas as vacinas em dia e faça um bom check-up no seu pet nesse período.

E algo que fizemos assim que o Baltha pisou na Austrália foi fechar um seguro saúde pra ele. Saúde de pet aqui é muito cara, e tem seguros que são levinhos no orçamento (como o do Woolworths, que ainda dá desconto em compras) e podem salvar seu bolso em algum imprevisto (nós, por exemplo, já estouramos o limite da cobertura em seis meses de seguro). É muito bom também fazer um check-up no seu pet, uma limpeza dental, e dar muito carinho pra esse guerreiro”. 

Apesar de todos os custos e dificuldades enfrentados pelo casal e pelo Balthazar durante o processo para que eles pudessem estar juntos na Austrália, Sara diz que tudo valeu a pena e que hoje o Balthazar já se sente em casa em Sydney. “Aqui na cidade o que não faltam são parques off-leash (em que os cachorros podem ficar sem coleiras) e praias específicas para cães, onde as águas são bem calmas e o cãozinho é bem-vindo a brincar sem coleira e nadar à vontade”. 

Sobre o autor

Mariana Gotardo

Mariana Gotardo é jornalista com experiência de mais de 20 anos em TV no Brasil. Já foi repórter, apresentadora e editora. Desde 2015 mora na Austrália e produz conteúdo sobre intercâmbio em texto e vídeo.

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