O jornalista paulistano Felippe Canale, que vive em Melbourne, na Austrália, desde 2017, produz conteúdos com temas relacionados à comunidade LGBTQIAPN+ desde 2012, há mais de dez anos.  

Felippe tem artigos, podcasts e vídeos publicados em 14 idiomas, em mais de 18 países, em veículos de comunicação como ABC News, SBS Portuguese e VICE Magazine na Austrália, Catraca Livre, UOL e Folha de S. Paulo no Brasil, entre outros. 

Entre os conteúdos produzidos está por exemplo uma série de podcasts para a SBS Portuguese chamada “Traduzindo a Transição“, que Felippe fez em parceria com o editor Marlon Moro, em que brasileiros transgêneros contam sobre seus processos de transição na Austrália. 

“Foi muito interessante aprender com cada um dos entrevistados a partir de suas vivências pessoais, seja na visão de uma mãe que tem um filho adolescente transacionando de gênero, e também na visão do próprio filho, tendo a oportunidade de mostrar que cada história é única”, destaca Felippe. 

Para ele, “a comunidade trans, seja em qualquer parte do mundo, ainda carece de publicações de histórias inspiradoras para que o assunto deixe de ser tabu e se torne mais acessível para todos, ajudando com que o preconceito diminua mais a cada dia”. 

Ao falar da forma como trabalha e o objetivo do conteúdo que produz, Felippe destaca que cada uma das matérias e reportagens, seja em formato de vídeo, texto ou podcasts, são produzidas com muito carinho.

“O meu papel é dar voz para que as pessoas possam compartilhar suas histórias e, direta ou indiretamente, acabem inspirando ou educando quem consome este conteúdo”, afirma. 

Diferenças entre Austrália e Brasil

Como o Felippe integra a comunidade e produz pautas LGBTQIAPN+ no Brasil e na Austrália, ele traça um paralelo entre os dois países. 

“Cada um dos países está num momento diferente de evolução em relação à comunidade LGBTQIAPN+ e eu sinto que aqui na Austrália temos mais direitos, liberdade e até mesmo segurança física. Isso sem falar das campanhas de conscientização e suporte psicológico disponíveis para a comunidade”. 

Com relação a esse apoio, Felippe destaca o trabalho do Thorne Harbour Health e também de outros serviços direcionados à comunidade que podem ser encontrados neste link. E explica: “eles oferecem apoio à comunidade intersex, pessoas vivendo com HIV, aborígenes e pessoas da melhor idade”. 

Imigrantes LGBTQIAPN+ na Austrália

Felippe também lembra que existem problemas específicos da comunidade imigrante LGBTQIAPN+ na Austrália, que os locais não enfrentam. “Uma pessoa nascida aqui tem mais chances de ter acesso às ferramentas e informações disponíveis para reagir em caso de discriminação”. 

Ele ressalta que nem todos os imigrantes sabem, por exemplo, que qualquer pessoa tem o direito a ter 30 minutos de consulta gratuita com um advogado que vai oferecer orientação jurídica caso seja necessário. O serviço pode ser encontrado neste link.

Quanto aos direitos da comunidade LGBTQIAPN+, Felippe alerta sobre a importância de as pessoas estarem cientes das leis que as amparam. 

“O preconceito e a discriminação devem ser tratados como crime e não como ‘opinião’. A informação nos traz empoderamento e, juntos, podemos lutar para uma sociedade mais igualitária, independente da sua orientação sexual ou identidade de gênero. A luta contra a homofobia e a transfobia deve ter a participação de toda a sociedade e não somente da comunidade LGBTQIAPN+”. 

Ainda sobre os imigrantes LGBTQIAPN+ na Austrália, Felippe ressalta que muitos deles só assumiram sua orientação sexual depois de saírem dos seus países e chegarem aqui. 

Ele dá o exemplo dos brasileiros que passam por isso: “Às vezes por pressão da família ou até mesmo por não se sentirem seguros ao fazerem isso lá no Brasil. Vale lembrar que o Brasil é um país muito homofóbico e o ambiente acaba dificultando que muitos assumam sua orientação sexual”. 

Muito ainda a ser conquistado

Ao falar dos avanços com relação aos direitos da comunidade LGBTQIAPN+, Felippe diz que ainda há muito a ser conquistado em qualquer parte do mundo, mas que a proporção é diferente de um país para o outro. E mais uma vez ele compara Brasil e Austrália: 

“O Brasil, infelizmente, ainda é um país que carece de necessidades básicas, como educação, alimentação e acesso à saúde e à cultura. Já aqui na Austrália, nós da comunidade LGBTQIAPN+ e também da comunidade heterossexual e cisgênera, temos muito mais amparo, seja do governo ou da sociedade em geral, para que possamos viver em um ambiente mais próximo do igualitário”. 

Mardi Gras e WorldPride em Sydney

Eventos como o Sydney Mardi Gras, promovido anualmente na maior cidade da Austrália, e o WorldPride, que em 2023 vai ser realizado em Sydney paralelo ao Mardi Gras, entre fevereiro e março, são muito importantes na opinião do Felippe, que afirma: “seria um sonho que todos os países do mundo pudessem sediar este tipo de evento e mostrar para a população que todos são bem-vindos e devem se sentir seguros para celebrar a diversidade”. 

Como um bom jornalista, ele cita dados (alarmantes) de uma matéria publicada na BBC em 2023, que diz o seguinte: “Ter relações sexuais com uma pessoa do mesmo gênero é algo que pode ser punido com a pena de morte em 11 países do mundo. (…) Além da pena de morte, 68 países ao redor do mundo proíbem as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo. As sentenças variam de alguns meses a vários anos de prisão ou até castigos corporais, como flagelações públicas”. 

Felippe também destaca a importância da sigla LGBTQIAPN+: “Ela não se resume apenas à letra G, em referência à comunidade gay. Representatividade é importante e merece ser enaltecida sempre, então no evento WorldPride são representadas todas as letras da comunidade –  Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans, Queer, Interssexuais, Assexuais/Agênero, Pan/Poli, Não binária, entre outras nomenclaturas que ainda estão por vir”. 

E completa: “A sexualidade é algo que está sempre em evolução, e sendo assim, o + representa que não há limites para a diversidade, que deve ser abraçada e respeitada sempre”. 

Sobre o autor

Mariana Gotardo

Mariana Gotardo é jornalista com experiência de mais de 20 anos em TV no Brasil. Já foi repórter, apresentadora e editora. Desde 2015 mora na Austrália e produz conteúdo sobre intercâmbio em texto e vídeo.

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