Gravidez é igual em qualquer lugar do mundo, certo? Nem sempre. 

 

Estar grávida e ter um bebê no Brasil pode ser uma experiência bem diferente do que passar pela gestação e pelo parto na Austrália, ainda mais se você é uma estudante internacional e não tem acesso ao sistema público de saúde australiano. 

 

Nesse artigo nós vamos te contar um pouco sobre como é o pré-natal, o parto e o pós-parto na Austrália, e a história da Henny Santana, mãe do Oliver, que teve o filho em março de 2022, quando estava no visto de estudante no país. 

 

Gravidez e parto da Henny na Austrália

 

Henny chegou como estudante em Sydney, na Austrália, em 2018, com o marido Daniel. Eles já tinham a intenção de trilhar um caminho para conquistar um visto permanente no país. Os dois estudaram inglês e em seguida Henny fez um curso de Commercial Cookery (Culinária Comercial) para ter uma formação que pudesse usar como plano B para a busca da cidadania australiana. O plano A do casal era conquistar a residência permanente através da profissão do Daniel, que é biólogo. 

Mas apesar de o casal ser bem planejado, com seus objetivos traçados, a gravidez da Henny foi uma surpresa. Não fazia parte dos planos deles no momento em que aconteceu. Mesmo assim, o fato não abalou a decisão do casal de permanecer na Austrália. “Nós sabíamos que o OSHC (Overseas Student Health Cover, o plano de saúde para estudantes internacionais), cobriria bastante coisa do pré-natal e do parto.” 

 

E foi isso que realmente aconteceu. O Bupa, uma das companhias que oferece seguro saúde para estudantes na Austrália (OSHC), cobriu praticamente tudo: as consultas com o GP, reembolsou as consultas com parteiras no hospital e cobriu os exames de sangue, incluindo o exame inicial, que é mais completo e custa em torno de A$500. Mas isso porque a Henny procurou um laboratório que pratica o bulk billing, quando o plano paga direto ao fornecedor do serviço e o estudante não precisa pagar do próprio bolso e pedir o reembolso em seguida.   

 

Sobre o pré-natal na Austrália, Henny conta que achou diferente do que já ouviu falar sobre o pré-natal no Brasil. Durante toda a gestação ela fez apenas três exames de ultrassom para ver o bebê, e o acompanhamento foi feito no hospital próximo da casa dela que o plano cobria. As consultas eram com parteiras e o parto foi acompanhado por uma dela e uma estagiária que a acompanhou durante toda a gestação. “Meu trabalho de parto durou nove horas. Foi considerado rápido e foi respeitada a minha opção de não usarem instrumentos como o fórceps para auxiliar na “saída” do bebê.”

 

Apesar de tudo ter corrido bem no parto, que foi vaginal, Oliver nasceu com umas “machinhas” no pulmão e por isso precisou passar cinco dias na UTI neonatal. O seguro saúde de estudante também cobriu a internação do bebê na UTI, que desde o nascimento até completar um mês de vida ficou vinculado à mãe no OSHC. 

 

Sobre a “licença-maternidade” do curso de Commercial Cookery que estava fazendo na época e do trabalho, Henny conta que não precisou trancar o curso pois faltavam apenas dois meses para o curso ser concluído quando Oliver nasceu e ela só pediu mais prazo para a entrega dos trabalhos. Quanto ao emprego, apesar de ser casual (quando não há vínculo empregatício com o empregador), pelo fato de que ela já estava trabalhando havia mais de um ano na mesma empresa, Henny teve o direito de tirar até um ano de licença-maternidade não remunerada e ter o trabalho de volta passado esse período. 

 

Ao fazer um balanço da experiência que teve, Henny disse que foi tranquila, mas que houve um momento muito difícil, quando o filho ficou numa incubadora na UTI neonatal. “Mas no final deu tudo certo”, afirma feliz a mãe de primeira viagem do brasileirinho Oliver, nascido em Sydney. 

 

Informações gerais sobre gravidez e parto na Austrália

 

Geralmente a primeira coisa quando suspeitamos da gravidez é fazer o teste de farmácia, que na Austrália também é vendido no supermercado. Tem das mais variadas marcas e preços, e custa a partir de A$7. 

 

Com o resultado positivo do teste, ou se der negativo mas a pessoa estiver com sintomas de gravidez e quiser fazer o exame de sangue para tirar a dúvida, a primeira coisa é marcar uma consulta com o GP, o clínico geral. É ele(a) quem vai fazer o pedido do exame para comprovar a gravidez e outros exames para verificar como está a saúde da gestante. 

 

Os exames são feitos no laboratório e os resultados são enviados ao médico, que vai informar à paciente por telefone ou em uma nova consulta presencial. Diferente do Brasil, na Austrália os resultados de exames não são enviados ao paciente por email ou entregues presencialmente no laboratório.

 

Com o resultado positivo do exame de sangue, é possível pedir ao médico uma requisição para fazer o teste pré-natal não-invasivo, um exame feito com 10 semanas de gestação que analisa os cromossomos do bebê através do sangue retirado da mãe para saber se ele pode ter alguma síndrome e qual será o gênero. Esse exame não é feito pela rede pública de saúde e custa em média A$425. 

 

O GP, clínico geral, é quem também vai solicitar o primeiro ultrassom, geralmente feito a partir de sete semanas de gravidez, para ver se está tudo certo com a gestação e o feto.

 

O que o seguro OSHC cobre e o que não cobre

 

Para que o seguro de saúde de estudante cubra consultas e exames de pré-natal, além de tudo o que envolve o parto, é preciso ter o OSHC há pelo menos 12 meses. Esse é o tempo de carência do seguro para estudantes para a cobertura de atendimentos relacionados à gravidez. 

 

Quem descobre que está grávida e ainda não tem 12 meses de OSHC, tem que arcar com os custos de exames, como exame de sangue e ultrassom, e pode ter que pagar pelas consultas médicas dependendo do valor que o médico cobra e da frequência das consultas. Caso se complete os 12 meses de carência antes do bebê nascer, o parto é coberto pelo plano. 

 

É importante ressaltar que mesmo quem já cumpriu a carência, dependendo do valor cobrado pelo médico escolhido ou do exame que vai fazer, pode ter que pagar a diferença entre o valor que a clínica cobra e o valor que o seguro cobre, que é baseado na tabela de cobertura do Medicare, o sistema público de saúde da Austrália. Dificilmente o OSHC vai pagar o valor total de um ultrassom por exemplo, já que as clínicas praticam valores mais altos do que os fixados pela tabela do Medicare. 

 

Já no caso do parto, o OSHC geralmente cobre o valor total, incluindo a internação e UTI Neonatal, caso o bebê precise ficar um tempo lá. 

 

É fundamental que se informe sobre os valores e a cobertura do plano antes de marcar consultas, exames ou mesmo de escolher o hospital onde será o parto, já que as empresas de seguro também levam em consideração se o hospital é público ou privado na hora de oferecer a cobertura a estudantes.

 

Por se tratar de um tópico complexo e cheio de detalhes, para quem tem dúvidas com relação à cobertura do OSHC para qualquer tipo de tratamento ou procedimento, vale entrar em contato com a empresa do seguro. É melhor se informar antes para não ter nenhuma surpresa desagradável com relação a gastos com a sua saúde.

 

Pré-natal na Austrália

 

Na Austrália o acompanhamento da gestante é realizado direto no hospital onde o bebê vai nascer, por diferentes parteiras e obstetras. 

 

Depois da consulta com o GP, clínico-geral, e dos primeiros exames, de sangue e ultrassom para ver se está tudo bem com a mãe e o bebê, o médico manda uma carta para o hospital, geralmente o mais próximo da casa da gestante, eles entram em contato e marcam o primeiro atendimento para a partir daí fazer o acompanhamento pré-natal até o nascimento do bebê. 

 

Na maioria dos casos a gestante não vai ser acompanhada sempre pelo mesmo médico. A cada consulta o atendimento é feito por uma parteira ou obstetra diferente, que esteja de plantão naquele dia e horário. 

 

Existem programas específicos em alguns hospitais para que algumas grávidas, principalmente mães de primeira viagem, sejam acompanhadas sempre pelo mesmo profissional, mas isso não é regra. 

 

Também não há como saber quem será a parteira ou obstetra que vai estar com a grávida na hora do parto, pois o mesmo procedimento se aplica: o profissional ou os profissionais que vão acompanhá-la serão aqueles que estiverem de plantão na hora que o bebê for nascer. 

 

Vale ressaltar que em caso de alguma alteração na gravidez ou gestação de risco, é oferecido à gestante um acompanhamento especial com profissionais de saúde qualificados para oferecer o tratamento específico necessário.

 

Já se a gravidez é de risco habitual, até existe a opção de fazer o pré-natal e o parto com um único obstetra, e há inclusive obstetras brasileiros que atuam na Austrália. Mas nesse caso é preciso pagar um valor que é combinado diretamente com o médico e que varia bastante de um médico para o outro.

 

Parto na Austrália

 

Na Austrália, em 2019, 36% das mulheres que tiveram filhos deram à luz através de cesárea.

Já o Brasil é o segundo país com maior taxa de cesarianas no mundo, atrás apenas da República Dominicana, com mais de 55% dos partos por cesárea.

 

Segundo a OMS, Organização Mundial da Saúde, em termos populacionais não são verificados benefícios para a saúde de mães e bebês quando as taxas de cesarianas em um país são superiores a 10%. 

 

Apesar de o número de cesáreas ter aumentado nos últimos anos na Austrália, a tendência das equipes médicas no país ainda é estimular que as mulheres tenham partos vaginais. 

Quando a gestação é de risco habitual a gestante é estimulada a esperar entrar em trabalho de parto naturalmente, e mesmo depois que começa a sentir as contrações, esperar em casa até ter certeza de que elas estão ritmadas e de que o trabalho de parto está de fato em andamento.

 

Ao chegar no hospital, eles verificam em que estágio do trabalho de parto a grávida está e se ela já deve ser internada ou não. Em alguns casos eles sugerem que a mulher volte para casa e espere as contrações ficarem mais fortes e frequentes. 

 

Se o trabalho de parto realmente já estiver acontecendo, a gestante é levada para um quarto onde uma ou mais parteiras vão acompanhá-la durante todo o processo, e caso seja necessário, um ou mais obstetras também vão estar presentes. 

 

Os quartos dos centros de parto dos hospitais geralmente são bem equipados com banheiro, banheira, frigobar e até alguns acessórios como bolas de pilates e banquetas. 

 

Como as equipes trabalham por turnos, pode ser que a gestante comece o trabalho de parto com uma parteira e termine com outra. O bom disso é que não há “pressão” para que o bebê nasça logo. Se o trabalho de parto for longo, não tem problema, a não ser que a equipe perceba que há algo de errado com a mãe ou o bebê. Nesse caso, pode haver intervenções ou até mesmo a indicação de cesariana. 

 

Caso a equipe ache melhor partir para algum tipo de intervenção ou para a cesárea, tudo é explicado e precisa ser consentido pela gestante. 

 

Pelo fato de esse ser um momento delicado em que a mulher fica muito sensível e vulnerável, nós da Tagarela sugerimos que se leve um plano de parto escrito durante o pré-natal e na hora do parto para a equipe saber das preferências da gestante, e caso um(a) acompanhante vá com a grávida para o hospital, é bom que também saiba dos planos da gestante para interceder para que a equipe faça aquilo que ela quer, já que alguns profissionais de saúde podem querer ditar as próprias regras. 

 

O corpo é da mulher, esse é o momento dela de parir o próprio bebê e é ela quem deve decidir o que acha melhor, a não ser em casos extremos em que a mãe ou o bebê corre algum risco. 

 

A anestesia epidural é oferecida à gestante, principalmente se o trabalho de parto for longo e a dilatação for lenta. Cabe a ela aceitar ou não a aplicação da anestesia. 

 

Na Austrália também é possível ter parto em casa com equipe de parteiras e há alguns poucos hospitais que oferecem programas de parto em casa de forma gratuita, mas no geral a gestante escolhe uma equipe privada e paga por isso. Os valores variam bastante, mas geralmente são a partir de A$4 mil. 

 

Seja qual for a escolha da mulher, é importante que ela se sinta segura, confortável e bem acompanhada por profissionais qualificados.

 

Pós-parto na Austrália

 

Quando a mãe tem alta do hospital e vai para casa com o bebê, ela continua recebendo o acompanhamento de profissionais de saúde, e o melhor, sem ter que sair de casa nas primeiras semanas. 

 

Isso pode variar um pouco de um estado para o outro e de um hospital para o outro dentro da Austrália, mas geralmente as enfermeiras ou parteiras visitam a casa da mãe e do bebê nas primeiras semanas para examiná-los, esclarecer dúvidas que a mãe tenha e verificar as condições da mãe no pós-parto, do ambiente em que vive, da família e inclusive com relação à saúde mental da mulher, já que o puerpério é uma fase difícil e muitas mães podem ter o chamado baby blues ou até mesmo a depressão pós-parto. 


As profissionais que fazem a visita à casa da mãe e do bebê podem ser do hospital onde o bebê nasceu ou do centro de saúde da mulher e da criança do bairro onde a pessoa mora, e onde a mãe depois vai levar o bebê para algumas consultas para que ele(a) seja pesado, medido e assim se avalie a saúde e o crescimento do bebê. 

 

Também pode ser nesses centros dos bairros ou na clínica do GP, o clínico geral, que o bebê vai tomar as primeiras vacinas depois daquelas dadas no nascimento, aos dois meses de vida. É recomendado que após seis semanas do parto a mãe marque uma consulta com seu GP para que o(a) médico(a) avalie sua recuperação e a saúde do recém-nascido.

 

Para mães de primeira viagem são criados grupos de mães nos bairros com reuniões periódicas em que as enfermeiras dão informações e orientações, e onde as mães trocam experiências. 

 

Um fator muito diferente do Brasil para a Austrália no acompanhamento médico dos bebês é que na Austrália não é simples marcar uma consulta com o pediatra e ter um especialista acompanhando a criança. Esse acompanhamento é feito pelo clínico geral. 

 

Os pais só levam a criança ao pediatra caso o clínico geral ache que ela precisa ser avaliada pelo especialista. Nesse caso o GP passa uma solicitação que deve ser apresentada na clínica do pediatra para marcar a consulta. 

 

É assim que funciona para consultas com qualquer tipo de especialista. É preciso passar primeiro pelo clínico geral. A não ser quando há uma emergência. Nesse caso os pais levam o bebê ou a criança direto ao setor de emergência do hospital. Há hospitais infantis e também hospitais com alas infantis. Geralmente as pessoas optam pelo que fica mais próximo de casa. 

 

Em situações de emergência o OSHC, seguro saúde para estudantes, no qual é necessário incluir o filho assim que nasce, cobre o atendimento.



Henny Santana e Daniel Santana @casalnaaustralia



Sobre o autor

Mariana Gotardo

Mariana Gotardo é jornalista com experiência de mais de 20 anos em TV no Brasil. Já foi repórter, apresentadora e editora. Desde 2015 mora na Austrália e produz conteúdo sobre intercâmbio em texto e vídeo.

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