Estudante da Tagarela conta experiência nas gravações de “Mad Max Furiosa” em Sydney

 

Quando “Mad Max” foi lançado, em 1979, o brasileiro César Rodrigues ainda nem tinha nascido. Anos depois, quando César era criança, ele assistiu aos filmes da saga australiana estrelados por Mel Gibson, e gostou bastante da participação da cantora Tina Turner no terceiro deles, “Mad Max – Além da Cúpula do Trovão”. 

 

“Mad Max” projetou o cinema australiano para o mundo. Mal sabia César que um dia ele participaria de um dos filmes da saga, na Austrália. O ex-estudante da Tagarela, que agora é residente permanente na terra dos cangurus, acaba de atuar como figurante nas gravações de “Mad Max Furiosa” em Sydney. 

 

O filme deve ser lançado só em 2024, mas aproveitamos que o César acabou de participar das filmagens para saber como é trabalhar em grandes produções audiovisuais na Austrália, e como um imigrante pode ingressar nessa área. 

 

Chegada na Austrália e primeiros trabalhos

 

César conta que chegou na Austrália em agosto de 2017 com visto de estudante. Como muita gente, ele veio ver se ia gostar e foi ficando. “Conheci meu namorado australiano e quando a COVID-19 apareceu, resolvemos que eu iria aplicar para o visto de partner (cônjuge) para ter uma vida mais confortável frente às novas dificuldades da pandemia. Hoje tenho o meu PR (residência permanente na Austrália) recém-aprovado, uma semana antes do meu aniversário em agosto deste ano (2022).

 

Sobre os tipos de trabalho que já fez na Austrália, César lista: “Meu primeiro emprego foi em uma gráfica warehouse, onde fiquei por um ano. Depois me joguei nos jobs (trabalhos) de hospitality (hotelaria) no Sea Life Aquarium em Sydney, e entre idas e vindas, passei por telemarketing, pesquisa de mercado, marketing em mídias sociais e hoje trabalho com turismo no Skywalk da Sydney Tower Eye e também no BridgeClimb.

 

César explica que tinha feito apenas alguns trabalhos pequenos no Brasil na área de audiovisual. “Fiz figuração em comerciais de televisão e cheguei a desfilar em passarela uma vez, o que foi bem difícil. Mas foi na Austrália que os trabalhos como modelo e ator prosperaram”.

 

Trabalho no audiovisual na Austrália

 

Quando César teve a ideia de trabalhar com audiovisual na Austrália, resolveu procurar agências de modelo, pois esse foi o caminho que ele fez no Brasil. Ele ficou então um ano e uma agência, e depois mudou para outra, onde está até hoje, pois “eles dão mais atenção e direcionam os trabalhos de forma mais adequada com o seu perfil”. 

 

César sugere que se pesquise por boas agências em grupos de Facebook ou mesmo no Google. 

 

Dos trabalhos que já fez nessa área na Austrália, César lista figuração em comerciais de TV, participação em série de TV no Stan, Netflix, Paramount+, além de filmes, sendo o mais recente o “Mad Max Furiosa”. 

 

Entre os trabalhos que mais gostou de fazer, César cita uma nova série original da Netflix com a comediante Celeste Barber e a figuração no “Mad Max Furiosa”, segundo ele “uma experiência inesquecível”. 

Foto durante gravações de uma série da Netflix em 2022.

 

Curiosidades dos bastidores e encontros com famosos

 

Quando gravou para a Netflix este ano, César conta que a participação dele foi uma “feature role”, um nível acima de figuração, e que por isso vai ter o nome dele nos créditos “com nome do personagem e tudo, o que me deixou muito empolgado”.  

 

A cena dele foi dentro de um carro com a atriz principal. “Entre um take e outro a gente ficava dentro do carro esperando a próxima ação, e foi quando ela apontou pra um homem longe da gente tirando fotos com aquelas câmeras fotográficas que a gente vê em jogos de futebol e gritou “PAPARAZZI”. Eu fiquei sem reação na hora e super intrigado pois nunca tinha visto isso aqui na Austrália, e logo na primeira vez foi comigo envolvido. Achei chique! (risos)”  

Chris Hemsworth – AP Photo/Mark Baker

 

César conta que teve a oportunidade de estar em cena com o Evan Peters em um filme, com a Claudia Karvan para a série “Bump”, que chegou a brincar com o pet que ela levou para o set e conversou um pouco com ela. “Agora em ‘Mad Max Furiosa’ pude ver de perto os atores Anya Taylor-Joy e Chris Hemsworth e dizer que somos colegas de trabalho”. 


Anya Taylor-Joy é Vianney Le Caer/Invision/AP

Estar em uma grande produção

 

Quando perguntamos ao César como é trabalhar em uma grande produção audiovisual como “Mad Max Furiosa”, ele diz: “me deu a sensação de ser uma criança novamente, indo pro parquinho. Foi tudo incrível”. 

 

E detalha:  “eles faziam maquiagens com próteses na gente, os cenários eram enormes e muito bem detalhados, a quantidade de pessoas envolvidas na produção era grande. Eu fiquei muito feliz e orgulhoso de poder ter tido essa experiência em uma produção milionária. E foram muitos dias trabalhando com a equipe, então a gente acabou se acostumando com a rotina de acordar bem cedo, ir pro figurino, depois pro departamento de maquiagem e aguardar pra ir pro set. Era tudo muito bem organizado e estruturado”. 

 

Quanto à atuação dele no filme, César diz que fez três personagens diferentes que consequentemente tinham três figurinos diferentes. “Era muito divertido viver essas mudanças e trocas de figurino e tipos de maquiagem. Cada uma com uma característica diferente de sujeira e sangue. Mas como eu assinei um NDA (Non Disclosure Agreement), não posso contar muito mais do que isso”. 

 

Ele só adianta que “‘Mad Max Furiosa’ vai contar a história de como a Furiosa se tornou quem ela é, antes dos eventos de ‘Mad Max – Estrada da Fúria’. O elenco é incrível e garanto que as cenas de ação vão estar excelentes também. De resto, é só esperar sair nos cinemas em 2024 que eu vou tentar me segurar com os spoilers”. 

  Foto do César chegando no set de filmagem de Mad Max às 3h da manhã.

 

 

Remuneração

 

Ao falar das horas de trabalho para quem atua nessa área, César diz que as diárias e horas que se trabalha por dia dependem da produção e do tipo de trabalho ou personagem que você vá fazer. 

 

“Por exemplo, para o trabalho na Netflix eu fiz dois dias de gravação, cada dia com quatro horas de trabalho, com o cachê fechado de A$400 por dia, o que seria mais ou menos A$100 por hora para uma “featured role” (função acima de figuração), e claro, eles pagam uma taxa de horas extras caso estendam o turno, o que normalmente acontece”.  

 

“Já em ‘Mad Max Furiosa’ fiz o contrato para 15 dias ganhando mais ou menos uns A$30 por hora, e acabou que eles me chamaram pra mais alguns dias, o que também acontece caso a produção goste do seu trabalho”. 

 

Ao falar da forma de pagamento, César diz que “até hoje só fiz jobs pagos pelo TFN (Tax File Number) e desconheço se algum estúdio paga por ABN (Australian Business Number). A agência vai tirar a comissão dela por ter te agenciado. A porcentagem varia de uma agência para a outra. O meu agente por exemplo tem o cut de 20%, que é razoável, jé que outras agências cobram comissão de 35%”. 

 

Ambiente de trabalho

 

Segundo César, as condições de trabalho em um set de filmagem são as melhores possíveis. “Sempre vai ter um lugar para você fazer um café, comer uns lanchinhos, e eles sempre oferecem refeições preparadas por equipes especializadas que trabalham nessa área de audiovisual.” 

 

César conta que além de receber uma boa alimentação no set, para quem trabalha nessa área, “quando o clima está frio e o seu figurino não é muito quente, eles te dão cobertores ou casacos, e sempre tem aquecedores nos bastidores pra gente ficar esperando a hora de gravar. Quando fiz a featured role (papel maior que o de figurante) para a Netflix, tive até direito a um trailer pra relaxar e esperar a minha hora de brilhar”. 

 

Oportunidades para imigrantes

 

Para quem pensa em seguir o mesmo caminho que o César na Austrália, ele diz que “existe oportunidades para imigrantes sim. Já trombei com alguns brasileiros nos bastidores de algumas dessas produções. Lembro também de ter visto uma manchete da SBS (emissora australiana) sobre um brasileiro no elenco de uma série do canal, então nunca se sabe onde podemos chegar.” 

 

César conta que para fazer figuração em produções audiovisuais na Austrália não é necessária uma formação em especial. “Basta se encaixar no que a produção está procurando e ter desenvoltura nos testes para mostrar que é capaz de reproduzir as reações e emoções que eles buscam. Mas claro que se for do interesse da pessoa mergulhar no mundo da atuação, é importante se dedicar a algum tipo de treinamento na área, com cursos ou o máximo de experiência”. 

 

Ele encerra dizendo o que mais o motiva a trabalhar com audiovisual na Austrália: “o que eu mais gosto desse tipo de trabalho é que sempre vai aparecer algo diferente pra fazer, e que vez ou outra você acaba encontrando alguém da produção com quem já trabalhou antes. No ‘Mad Max Furiosa’ por exemplo, uma das produtoras me reconheceu e ficou feliz de me ver lá envolvido na produção”. 

 

 

 

Sobre o autor

Mariana Gotardo

Mariana Gotardo é jornalista com experiência de mais de 20 anos em TV no Brasil. Já foi repórter, apresentadora e editora. Desde 2015 mora na Austrália e produz conteúdo sobre intercâmbio em texto e vídeo.

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