Em 2014, Nina Caxambu, atual diretora da Tagarela, na época uma estudante recém-chegada à Austrália, decidiu criar um grupo de Facebook chamado Grupo LGBT brasileiro na Austrália. Em 2015 ela mudou o nome para “Fruits from Brazil“.
Naquele mesmo ano, Nina conheceu o produtor multimídia Andre Mozor quando ele estava produzindo um documentário sobre os direitos da comunidade LGBTQIAPN+ na Austrália, que segundo o próprio Andre é uma espécie de guia para a comunidade brasileira que vive aqui ou tem vontade de vir pra Austrália saber sobre os direitos dos LGBTQIAPN+ no país.
“Desde então, nós fomos parceiros no grupo e em 2018 registramos o Fruits from Brazil como uma nonprofit association (associação sem fins lucrativos)”, conta Andre, hoje presidente do Fruits from Brazil.
Iniciativas do Fruits from Brazil
Andre conta que o grupo de Facebook do Fruits from Brazil tem hoje cerca de 2.200 membros que são pessoas da comunidade LGBTQIAPN+ de brasileiros na Austrália morando em diversas cidades e estados do país, apesar de o grupo estar sediado em Sydney.
Sobre o grupo de Facebook, Andre diz que “sempre procuramos informar e ajudar os integrantes do grupo anunciando eventos e oportunidades de trabalho nas diversas cidades e temos planos para promover encontros presenciais organizados pelo Fruits from Brazil num futuro próximo”.
O grupo já promove eventos e projetos, ainda baseados principalmente em Sydney. “Temos um encontro mensal com DJs brasileiros e performances de Drags no Kinselas. Temos o projeto Fruitness, que proporciona aulas de yoga, bootcamp no momento, mas em breve teremos futebol e encontros em parques com competições de diferentes esportes e socialização. Temos também aulas de pronúncia em inglês para a comunidade LGBTQIAPN+ brasileira em Sydney. Além de termos o nosso bloco no Mardi Gras”.
Fruits from Brazil no Mardi Gras
Andre conta com orgulho que o Fruits from Brazil já tem uma longa relação com o Mardi Gras, maior evento voltado para a comunidade LGBTQIAPN+ na Austrália. O grupo desfila no evento desde 2014, e em 2020 deu início a uma mostra de curtas-metragens LGBTQIAPN+ brasileiros com exibição no período do Mardi Gras.
Ao falar do evento, Andre relembra a história: “o Mardi Gras começou em 1978 como um protesto contra as autoridades que tratavam a comunidade LGBTQIAPN+ como criminosa. No primeiro protesto a polícia atacou, prendeu e torturou as pessoas. Nos meses que se seguiram, mais protestos e prisões aconteceram – e as ações das autoridades passaram a ser vistas como pesadas. Com isso, o parlamento de New South Wales acabou revogando em 1979 a legislação da Lei de Ofensas Sumárias do estado que permitia que as prisões nos protestos fossem feitas. Por isso, a primeira marcha do Mardi Gras foi um importante marco dos direitos civis para além da comunidade queer. Aproximadamente três mil pessoas participaram da marcha de 1979 e não houve incidentes”.
Andre conta que atualmente, durante o período do Mardi Gras, são promovidos na cidade de Sydney vários eventos para a comunidade LGBTQIAPN+. “É importante para que as novas gerações tenham orgulho de ser quem são, aprendam e valorizem a luta das gerações passadas para conseguirem os direitos que temos hoje”.
WorldPride 2023 em Sydney
Paralelo ao Mardi Gras, em 2023 Sydney também vai sediar o WorldPride, um evento que promove visibilidade e conscientização sobre questões lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, intersexuais e queer (LGBTIQ+) em nível internacional.
Andre explica que o WorldPride inclui desfiles/marchas, festivais e outras atividades, como uma conferência de direitos humanos. “Esse é o primeiro ano em que o evento acontece no hemisfério sul. E será importante para colocar Sydney no calendário mundial dos eventos voltados para a comunidade LGBTQIAPN+. Vai ser um evento grande com muitas festas, performances, exposições, palestras e exibições de filmes. O evento atrai turistas do mundo inteiro para Sydney”.
Ao detalhar como vai ser a participação deste ano do Fruits from Brazil no evento, Andre conta que o grupo vai desfilar na parada e fazer a segunda edição do “Brazilian Short Film” – exibição de Curtas LGBTQIAPN+ no Event Cinemas na George Street, no centro de Sydney, com curadoria da Carolina Vilares, que também é diretora da Tagarela.
E tem uma novidade: “este ano teremos a presença da Rita von Hunty, que é uma drag queen que foi criada para informar sobre temas políticos e históricos importantes para a comunidade. A Rita é a persona criada por Guilherme Terreri, que além de ser drag queen é professor, ator, youtuber, comediante e palestrante”.
Após a exibição dos curtas, que terá duas horas de duração, haverá mais duas horas de coquetel com a presença da Rita von Hunty no mesmo local da mostra de filmes, o Event Cinemas na George Street.
Os ingressos para o evento estão sendo vendidos neste link.
Conquistas e futuro do Fruits from Brazil
Para Andre, o Fruits from Brazil se tornou uma organização que ajuda a unir a comunidade LGBTQIAPN+ brasileira que vive na Austrália promovendo encontros e discussões sobre seus direitos.
Ele destaca: “conseguimos fazer ações que ajudam a nossa comunidade a se integrar na Austrália, como cursos de inglês, yoga, esportes e ajuda psicológica. Também nos envolvemos com outros grupos daqui da Austrália que lutam por objetivos parecidos”.
Entre os planos do grupo para o futuro, estão mais integração e parcerias com outros grupos da Austrália, Brasil e outros países do mundo.
Comunidade LGBTQIAPN+ no Brasil e na Austrália
Sobre respeito e liberdade da comunidade LGBTQIAPN+ no Brasil e na Austrália, Andre lembra que no Brasil a descriminalização dos relacionamentos de pessoas do mesmo sexo assim como a permissão do casamento de pessoas de gêneros semelhantes aconteceram antes do que na Austrália. Mas ele acredita que a cultura australiana seja menos invasiva e as pessoas (na Austrália) não demonstram sentimentos contrários e agressivos como no Brasil. “No geral as pessoas respeitam mais as diferenças”.
“Mas eu não tive muito problema no Brasil por ser gay. Sou de São Paulo que é uma cidade grande e tem menos preconceito que lugares menores. Minha família nunca se intrometeu muito na minha vida. Além disso, eu sempre trabalhei como produtor artístico, num meio que muitas pessoas da comunidade LGBTQIAPN+ trabalham. Então não senti muita diferença”, declara Andre.
“Mas conheço muitas pessoas que saíram do armário aqui na Austrália por se sentirem menos discriminadas”, ressalta.
Ser imigrante LGBTQIAPN+ na Austrália
Para Andre, os desafios de todos os imigrantes, independente de gênero, são muito parecidos. Ele cita idioma, cultura, distância da família e dos amigos como algumas dessas dificuldades.
“Porém a comunidade Queer é mais vulnerável porque muitas vezes sofre rejeição e preconceito dentro da própria família, e isso pode causar muitos traumas e problemas sérios de saúde mental que afetam o desenvolvimento social”, afirma.
Andre acredita que não há muitos problemas com relação à prática dos direitos da comunidade LGBTQIAPN+ nas grandes cidades da Austrália, mas lembra que é tudo muito recente. “O último estado a descriminalizar a homosexualidade entre dois homens foi a Tasmânia em 1997”.