É mais comum do que se imagina que profissionais aproveitem o intercâmbio para mudar completamente de área de trabalho. 

O motivo dessa opção varia bastante, e o foco pode ser a conquista de um visto de trabalho ou permanente no país, ter uma carreira que te ofereça mais possibilidades na Austrália, a insatisfação com o trabalho anterior ou até mesmo uma mudança completa de vida, nos mais variados aspectos, incluindo o profissional. 

Nesse post você vai conhecer a história do Lindomar Souza, que chegou na Austrália em 2014 na companhia da esposa Priscila Werneck, já decidido a trabalhar como barista no país, apesar de ter atuado como personal trainer por muitos anos no Brasil com formação em Educação Física.  

Hoje ele atua há nove anos como barista na Austrália, dá aulas presenciais e online sobre como fazer café, e se diz satisfeito com a profissão que escolheu desempenhar no país. 

O casal tem um filho, que nasceu na Austrália, e Lindomar destaca que como barista ele entra e sai cedo do trabalho, o que proporciona tempo livre durante a semana para ele ficar com o pequeno.

Relação com a Educação Física

Lindomar conta que escolheu cursar Educação Física na faculdade em Florianópolis, sua cidade natal, porque frequentava academia desde os 13 anos de idade, inspirado na irmã, que também sempre treinou. 

Antes mesmo de se formar ele já fazia estágio na academia onde depois trabalhou como personal trainer e se tornou gerente. Foram sete anos atuando na área. 

Lindomar com os pais na formatura da faculdade de Educação Física em 2011, em Florianópolis.

Nessa época, ele conta que trabalhava muitas horas por dia, geralmente das 5h às 23h, de segunda a sexta-feira, e estava bem cansado da rotina. No mesmo período, Lindomar e Priscila, que já namoravam havia muitos anos, resolveram se casar, e viram que seria difícil juntar dinheiro para comprar uma casa. 

Foi então que, a partir de uma vontade que a Priscila já tinha, de morar um tempo fora do Brasil, os dois decidiram que se casariam e, em vez de comprar um imóvel no Brasil, usariam o dinheiro que tinham para fazer um intercâmbio na Austrália. 

Primeiros passos como barista ainda no Brasil

Lindomar diz que toma café desde criança e que sempre gostou da bebida, mas o café que ele tomava era o tradicional coado, feito em casa. 

Sobre o interesse em aprender a fazer café de barista, ele conta que surgiu alguns meses antes de viajar para a Austrália. 

“Comecei a estudar sobre café porque não sabia nada de inglês e decidi focar na profissão de barista para chegar aqui trabalhando na área, mesmo sem saber o idioma. Eu não queria trabalhar em empregos braçais e correr o risco de me machucar”, conta.

Ele então fez curso de barista ainda no Brasil, alugou uma máquina de café, teve contato com uma pessoa que já tinha atuado como barista na Austrália, aprendeu a fazer os cafés mais populares no país da oceania e ficou seis meses treinando antes de embarcar para o intercâmbio.

O começo como barista na Austrália

Apesar de ter feito curso de Fitness na Austrália, já que atuar na área de formação poderia ser um possível caminho para que ele e a Priscila conquistassem um visto permanente no país, Lindomar sempre trabalhou como barista na terra dos cangurus, e por isso diz que nunca mais pensou seriamente em voltar a ser personal trainer.

Mesmo sem saber nada de inglês logo que chegou, ele se ofereceu para ir como voluntário todos os dias de manhã a um café em Sydney, cidade onde ele e a Priscila moraram por alguns anos antes de se mudarem para Adelaide, para aprender a receber os pedidos das pessoas, pois fazer café ele já sabia. 

Enquanto isso, trabalhava durante o dia fazendo faxina e estudava à noite. Já cansado dessa rotina, quando estava quase desistindo do “sonho australiano”, recebeu a proposta de ser efetivado no café e, desde então, não parou mais. 

Logo que chegou na Austrália, Lindomar ia como voluntário a um café em Sydney para aprender a pegar os pedidos, pois não falava inglês.

Pontos positivos da nova profissão

Ao falar dos prós da profissão de barista, Lindomar destaca: “Por ser uma ocupação em demanda, nunca fiquei sem emprego. Começo e termino meu dia cedo, e todo dia é diferente, não existe rotina de trabalho. Além disso, há possibilidade de crescimento para outras áreas relacionadas ao café”. 

Sobre ser barista na Austrália, ele conta que “apesar de algumas pessoas verem a profissão de barista apenas como uma porta de entrada para o mercado de trabalho no país, aqui, quem foca na carreira, ganha reconhecimento no mercado, e os donos das cafeterias irão até você para te contratar. Quem mora na Austrália sabe que tem uma cafeteria ao lado da outra e todo estabelecimento tem uma máquina de espresso. E a cultura de tomar café feito por barista é muito forte. Às vezes chego a atender o mesmo cliente três ou até quatro vezes ao dia”. 

De aprendiz a tutor 

Com toda a experiência e conhecimento que adquiriu na área, trabalhando nove anos como barista na Austrália, Lindomar decidiu dar aulas para quem, como ele, quer ingressar na profissão após a chegada no país. 

Ele dá aulas presenciais há cinco anos na cidade de Adelaide, capital de South Australia, onde mora, e já formou 300 alunos. Recentemente ele lançou um curso online, com 30 aulas gravadas em que ensina como manusear uma máquina de espresso, preparar 10 cafés e o leite.

“Ficou claro para mim a oportunidade de quem acabou de chegar na Austrália em ingressar no mercado de trabalho atuando como barista. Muitos estudantes trabalham como pedreiros ou faxineiros, empregos que exigem esforço físico. Quero mostrar para as pessoas que existe a profissão de barista, em que você trabalha no ar condicionado e sem risco de se machucar”. 

Realização profissional e pessoal

Ao falar de como vê hoje a mudança de profissão que fez anos atrás, Lindomar explica: “Foi algo natural na busca por emprego em outro país, e acabou se tornando profissão porque me apaixonei pelo café. Sou realizado nessa área e não pretendo sair dela”. 

Ele ainda diz que se não tivesse saído do Brasil para ir para a Austrália, jamais teria mudado de profissão. “Eu ganhava bem e estava satisfeito profissionalmente. Porém, trabalhava das 5h às 23h. Ao me mudar de país e agora sendo pai, percebo que aquela rotina era inviável pelo resto da vida”. 

Lindomar, na foto com a família, destaca que como barista, por entrar e sair cedo do trabalho, tem tempo durante a semana para ficar com o filho.

Por falar em família, Lindomar diz que teve o apoio da esposa desde o início quando resolveu mudar de profissão. “O apoio de quem a gente ama é extremamente importante para seguirmos em frente em qualquer plano da vida”, afirma.

Ele destaca que, para quem tem filhos pequenos, o horário de trabalho do barista pode ser um aliado. “Você começa sua rotina cedo e termina cedo. Chego em casa às 15h e ainda tenho todo o resto do dia com o Ben (filho)”. 

Conselho para quem quer mudar de profissão

Para aqueles que, como ele, pensam em mudar de profissão no intercâmbio, Lindomar diz o seguinte: “Venha com a mente aberta para as oportunidades. Você vai chegar em um país que nunca esteve antes, todos falam inglês e sua rotina vai ser diferente da que você tinha. Seja humilde e aprenda com quem está aqui”. 

Já para os futuros baristas, a dica é: “Faça um curso para estudar sobre a profissão e conseguir emprego quando chegar. O australiano não quer tomar qualquer café, e por isso o barista tem o poder de aumentar o faturamento de um estabelecimento porque fideliza o cliente. Lembre-se de dar o seu melhor. Você pode começar trabalhando em outras áreas da cafeteria, como por exemplo garçom/garçonete, e aos poucos migrar para a função de barista”. 

Sobre o autor

Mariana Gotardo

Mariana Gotardo é jornalista com experiência de mais de 20 anos em TV no Brasil. Já foi repórter, apresentadora e editora. Desde 2015 mora na Austrália e produz conteúdo sobre intercâmbio em texto e vídeo.

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