Quem não tem o domínio da língua inglesa certamente terá mais dificuldade de conseguir emprego na Austrália na sua área de formação. Mas a demanda por profissionais qualificados no país é tão grande, que dependendo da área de atuação, o estudante pode sim conseguir um emprego fazendo aquilo em que tem experiência, mesmo que não domine o inglês.
É esse o caso do gaúcho Sergio Landgraf, de 31 anos, técnico em eletrônica formado em engenharia elétrica, que atua na área de manutenção industrial e automação há 10 anos, e já trabalhou em multinacionais.
Sergio veio com a esposa Márcia para a Austrália, mais especificamente para a cidade de Brisbane, em novembro de 2022, justamente para estudar inglês e vislumbrar melhores possibilidades na sua carreira. Mesmo sem dominar a língua, menos de um mês depois de pisar em terras australianas, ele conseguiu um emprego na área dele.
Nesse post ele conta pra gente como isso aconteceu e divide um pouco da experiência dele de intercâmbio na Austrália.
Escolha da Austrália
A Austrália não é o primeiro destino de intercâmbio do Sergio, que em 2018 já tinha passado seis semanas estudando no Canadá. “Naquela época meu pai era vivo e eu não tinha terminado minha faculdade de engenharia elétrica, então só pensei mesmo em estudar por um período e voltar para o Brasil”.
Mas Sergio conta que a experiência que teve no país da América do Norte deixou um gostinho de “quero mais”: “Me despertou a vontade cada vez maior de aprender melhor o inglês e viver mais tempo em um outro país”.
Faltava então convencer a esposa Márcia, que no começo, segundo Sergio, achava que a proposta dele (de os dois terem uma experiência mais longa de intercâmbio em um outro país) era só uma brincadeira. “Mas aos poucos ela foi comprando a ideia”.
Quando começaram a pesquisar para qual país poderiam ir, Sergio conta que eles avaliaram algumas possibilidades como Canadá, Nova Zelândia e países da Europa. “Ao nos informarmos sobre a Austrália, vimos que seria o melhor custo-benefício, e que era um país seguro, bonito e bom de se morar, além da possibilidade de um de nós ser dependente do outro no visto de estudante, o que é muito importante para quem procura um intercâmbio mais barato”.
Após decidir o destino, foi a vez de buscar uma agência de intercâmbio. “Entre todas as agências escolhemos a Tagarela, que nos proporcionou um suporte incrível. É muito importante sanar todas as dúvidas. Aconselho que, se possível, quem vai fazer intercâmbio convide seus pais ou pessoas mais próximas a participar do processo e tirar dúvidas também. Eles são mais experientes e podem perguntar coisas importantes que ao chegar aqui podem te auxiliar”.
Expectativa de trabalho
Sobre procurar um trabalho na Austrália na área em que já atuava no Brasil, Sergio diz que, quando ainda estava no Brasil, pesquisou sobre as vagas na Austrália e descobriu que existiam muitas oportunidades.
“Mas achava que o fato de não ter inglês fluente e estar no visto de estudante poderia me limitar. Junto a isso tinha o medo de enfrentar algo novo, apesar de saber que eu tinha um ótimo currículo para uma vaga de automação. Tomei o cuidado de manter meu LinkedIn atualizado pois sabia que na Austrália isso seria importante, mais do que no Brasil”.
Sergio conta que, quando estava prestes a embarcar para a Austrália, tinha a certeza de que teria que trabalhar em empregos que não exigissem um nível alto de inglês ou muita experiência, e que geralmente são as opções de muitos estudantes internacionais recém-chegados ao país, como faxina, mudança, trabalhar em cozinha de restaurante, construção civil, entre outros.
Mas ele se questionava: “Depois de ter estudado tanto e trabalhado tanto para me desenvolver na minha carreira no Brasil, será que estou preparado para começar do zero fazendo um outro tipo de trabalho?”
Mesmo assim, ele afirma que procurava pensar na importância de ter humildade para ocupar outras posições de trabalho caso precisasse e aprender com elas. “Existem benefícios e malefícios em cada experiência. A vida nos ensina e devemos estar sempre prontos a enfrentar as dificuldades que surgirem”.
Conquista do emprego na área de formação
Sergio diz que sempre foi uma pessoa tímida e que isso poderia ser uma barreira para ele conquistar o que queria na Austrália. Mas destaca: “ao longo da vida aprendi que tudo depende mais de mim do que das outras pessoas. Quem não tem força de vontade para querer mudar sua situação, vai ficar assim pelo resto da vida”. Segundo ele, esse pensamento o impulsionou a agir no momento necessário para conseguir um emprego na área dele.
Na semana que chegou em Brisbane ele já começou a trabalhar com mudança, e dias depois com limpeza de casas, o que fez por duas semanas. Paralelo a isso, ele buscava por vagas na área de formação dele no SEEK (site de busca de trabalho na Austrália) e no LinkedIn.
Mesmo inseguro com o inglês, ele não deixou de se candidatar às vagas que o interessavam e disse que ficou surpreso ao receber rapidamente alguns e-mails em resposta às aplicações que tinha feito. Ele percebeu que realmente havia muita demanda na área de automação e engenharia na Austrália.
“Quando veio a primeira ligação de empregador, vi que era um número da Austrália e pensei muito antes de atender. A pessoa que me ligou falou bem mais do que eu, obviamente. Perguntou sobre minha carreira no Brasil, de mim, do meu visto. Eu mais entendia do que falava. Quando finalizamos a ligação, eu pensei que tinha perdido a chance da minha vida na Austrália, e que não estava preparado para entrar no mercado de trabalho na minha área devido ao inglês fraco. Mesmo assim, eu não desisti de continuar enviando currículos e me cadastrando em sites de emprego”.
Sergio conta que recebeu então algumas propostas pelo LinkedIn e alguns novos telefonemas, que foram o deixando mais confiante. Chegou o dia em que ele foi chamado para uma entrevista.
“Meu pensamento foi de que eu não tinha nada a perder. Estava trabalhando com faxina e se eu recebesse um não naquela entrevista, minha vida continuaria. Eu tinha em mente que realmente sabia fazer o serviço, e que a minha única barreira era mesmo o inglês”.
Ele diz que no Brasil estava acostumado a lidar com pessoas, então passar por apresentações e reuniões era relativamente fácil, mas que aqui poderia ser diferente.
A ‘tática’ utilizada por Sergio foi não se preparar para a entrevista “para não ficar nervoso”. A única preparação que ele fez foi escolher a roupa mais adequada para a ocasião e “caprichar” na aparência, pois, segundo ele, “isso importa muito em qualquer vaga que se busque na Austrália ou em qualquer outro lugar. Tenho certeza que se fosse de bermuda não teria conquistado a vaga”.
Foi assim que, pouco menos de um mês depois de chegar na terra dos cangurus, Sergio conseguiu um trabalho como engenheiro eletricista na área de automação em uma empresa do ramo em Brisbane, mesmo sem ser fluente no inglês e no visto de estudante. A formação e experiência adquirida no Brasil aliadas à alta demanda na área e à autoconfiança dele foram determinantes para que a vaga fosse conquistada tão rapidamente.
Oportunidade e perseverança
Apesar de dizer que não sabe se sua performance no trabalho está sendo satisfatória para os empregadores, “talvez por não entender o feedback que me dão já que não domino ainda o inglês”, Sergio diz que vê esse emprego como a oportunidade certa justamente para aprender o idioma, que é seu maior objetivo na Austrália. “Quero chegar o mais perto do fluente na língua, pois isso sim vai me abrir as portas aqui. E ter isso no currículo é um grande passo para um futuro melhor”.
Ele declara que não esperava tão cedo ter uma oportunidade dessa, mas atribui a conquista ao seu próprio esforço e coragem. “Nada disso teria ocorrido se eu não colocasse a cara a tapa, me candidatasse e acreditasse que nenhuma barreira iria me impedir de realizar meu sonho. Minha carreira está se desenhando aqui na Austrália. Tudo depende de mim agora. Não posso me acomodar e achar que está bom. Tenho que me dedicar ao máximo, aprender bem o inglês e desenvolver um ótimo serviço”.
Coragem
Perguntado sobre o que ele aconselha às pessoas que querem tentar trabalhar na área de formação na Austrália mas tem receio de não conseguir pela barreira da língua ou do visto, Sergio diz que é preciso ter coragem para realizar seus sonhos. Segundo ele, sair da zona de conforto faz com que isso aconteça naturalmente.
“Eu tinha um emprego estável no Brasil, casa, carro, etc. Saí do comodismo e tomei coragem para viver uma experiência nova. Esse é o ponto principal para a tomada de decisão. Não tenha medo do inglês. Agora eu vejo que isso é o menor dos problemas, pois se você sabe fazer o seu serviço bem feito, o teu empregador vai te valorizar e vai entender que tudo é um processo de aprendizado”.