Para parte da população australiana, o feriado nacional de 26 de janeiro, Dia da Austrália (Australia Day), é comemorado em eventos pelo país em que as pessoas usam roupas e acessórios adornados com a bandeira australiana. É também o dia em que milhares de pessoas se tornam oficialmente cidadãos australianos em cerimônias por toda a Austrália.

No geral, porém, é considerado um dia para reconhecer a história do país – boa e má. A história da data criou uma controvérsia significativa, com muitos se referindo a ela como o Dia da Invasão, e defendendo a mudança da data. Seguindo esse pensamento, a rede de supermercados Woolworths e a de lojas Big W optaram por não vender mercadorias do Dia da Austrália em 2024.

Abaixo explicamos, com base em um post com texto de Joe Horner para o Insider Guides, plataforma de informações para estudantes internacionais na Austrália, por que a data é tão polêmica, para que você decida de forma consciente se quer participar de algum evento no dia, de protesto ou celebração.

A Tagarela Intercâmbios apoia a mudança de data por considerar que 26 de janeiro não é um dia a ser celebrado, já que a partir do início da colonização, os povos indígenas, verdadeiros donos da terra ocupada pelos ingleses, foram perseguidos, escravizados, tirados de suas famílias, mortos, e os que sobreviveram foram e ainda são, ainda hoje, marginalizados.

O que é o Dia da Invasão?

Para os povos originários da Austrália, que já ocupavam a terra há mais de 50.000 anos antes da chegada dos britânicos, o Dia da Austrália é um dia de luto. Muitos australianos não-indígenas pensam da mesma forma, o que significa que você pode ouvir os termos ‘Dia da Invasão’, ‘Dia da Sobrevivência’ ou ‘Dia de Luto’ referentes ao 26 de janeiro. Muitos hasteiam a bandeira aborígine australiana a meio mastro e usam roupas pretas em protestos e lembranças como uma demonstração simbólica de luto.

26 de Janeiro é uma data extremamente controversa porque marca o aniversário da chegada da primeira frota de navios europeus à costa australiana. Foi então que começou a colonização do país, trazendo massacres, opressão às comunidades indígenas, roubo de terras e, mais recentemente, as Gerações Roubadas do início a meados do século XX. Estas gerações de crianças aborígenes foram removidas à força das suas famílias como resultado de políticas governamentais.

Por tudo isso, tem havido apelos para que o Dia da Austrália seja transferido para uma data que una todo o seu povo, em vez de dar continuidade à divisão.

O debate sobre mudar a data

A história do Dia da Austrália é relativamente curta. Somente em 1935 todos os estados e territórios do país começaram a usar o nome ‘Dia da Austrália’ para marcar o 26 de janeiro, que só se tornou feriado nacional em 1994. 

Desde então, tem havido sentimentos públicos contraditórios em torno do movimento para alterar a data. Para muitos, tanto indígenas quanto não-indígenas, a ideia de celebrar um evento que marca o início da desapropriação e do luto para os aborígenes e os habitantes das ilhas do Estreito de Torres não parece certa. Na verdade, é bastante incomum que um país celebre o seu dia nacional no aniversário da colonização.

Nos últimos anos, as atitudes têm mudado no sentido de mudar a data em que o Dia da Austrália é comemorado. Em 2017 a CNN informou que apenas 26% dos australianos queriam que a data fosse alterada; no entanto, uma sondagem mais recente do The Guardian concluiu que 57% das pessoas que responderam à pesquisa apoiariam a alteração da data ou a manutenção da data e a criação de um dia separado para reconhecer os povos das Primeiras Nações.

Um estudo mais detalhado realizado como parte do Deakin Contemporary History Survey descobriu que existem diferenças significativas nas atitudes entre as gerações mais velhas e mais jovens. 70% dos Baby Boomers (pessoas nascidas entre 1946 e 1965) são contra a mudança da data, enquanto 53% dos Millennials (nascidos entre 1986 e 2002) são a favor da mudança.

As datas alternativas sugeridas para o Dia da Austrália incluem:

1º de janeiro – O dia em que a Austrália se tornou uma nação com seis estados e dois territórios, em 1901.

28 de janeiro – Data já adotada pela cidade de Fremantle, em Perth/WA.

12 de março – O dia em que a capital da Austrália, Canberra, foi oficialmente nomeada.

9 de maio – Uma data que coincide com muitos aniversários importantes na Austrália, incluindo a de se tornar uma federação autônoma.

27 de maio – Aniversário de um referendo para incluir os indígenas australianos na contagem do censo. Esta data também dá início à Semana da Reconciliação todos os anos.

Como as pessoas demonstram resistência ao Dia da Austrália?

Muitas pessoas que não acreditam que o Dia da Austrália deva ser comemorado em 26 de janeiro mostram ativamente sua resistência à data. Algumas maneiras simples pelas quais as pessoas escolhem fazer isso incluem usar um nome alternativo, como “Dia da Invasão” em vez de “Dia da Austrália”, e não comemorar com um churrasco ou festa.

Todos os anos há marchas pacíficas, comícios e protestos realizados pelo país. Essas reuniões organizadas geralmente apresentam palestrantes e, às vezes, apresentações e cerimônias. São eventos inclusivos em que muitos participantes se vestem de preto e levam mensagens de apoio à mudança de data.

Cada vez mais, os locais de trabalho estão sinalizando sua posição no dia 26 de Janeiro, permitindo que seus funcionários substituam o feriado por um dia diferente, seja individualmente ou coletivamente. Organizações como a Change It Ourselves oferecem um guia para empregadores e funcionários que desejam tirar um dia de folga em outra data.

Entre os empregadores que optaram por dar aos seus funcionários a opção de trabalhar no dia 26 de janeiro estão as seguintes empresas: Deloitte, KPMG, Spotify, Channel 10, Telstra, Woodside e The University of Wollongong.

Foto: AAP Image/Jono Searle

Sobre o autor

Mariana Gotardo

Mariana Gotardo é jornalista com experiência de mais de 20 anos em TV no Brasil. Já foi repórter, apresentadora e editora. Desde 2015 mora na Austrália e produz conteúdo sobre intercâmbio em texto e vídeo.

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