Quem nos dá a resposta à pergunta do título do post é a Ana Gabriela Laverde, mentora de carreiras que atua em um sindicato de trabalhadores na Austrália prestando consultoria aos filiados.
Neste post você encontra as orientações detalhadas da Ana Gabriela sobre o que colocar e o que não colocar no seu currículo para se candidatar a um emprego na Austrália.
Devo informar meu endereço?
Segundo a Ana Gabriela Laverde, não é necessário informar seu endereço no currículo, e isso pode inclusive te “atrapalhar” no sentido de o possível empregador, se for esse o caso, ver que você mora longe do local de trabalho e deduzir que isso pode ser um problema no sentido de você se locomover até o lugar e chegar no horário.
O que informar no cabeçalho?
A Ana Gabriela sugere que se coloque o nome completo, telefone de contato, e-mail e perfil no LinkedIn, que segundo ela está se tornando extremamente necessário para as aplicações de trabalho e para a criação de uma rede de contatos.
Mas a Gabi chama a atenção para o fato de que as informações contidas no seu perfil do LinkedIn devem ter relação com a vaga para a qual você está se candidatando. Do contrário, é melhor não adicionar o LinkedIn ao cabeçalho do currículo.
Se for relevante para a sua profissão, a Ana Gabriela sugere que você também acrescente o seu portfólio online, caso você seja por exemplo um arquiteto(a), designer, fotógrafo(a).
Já a nacionalidade e o visto que você tem na Austrália não devem ser colocados no currículo, na opinião da Gabi, porque além de serem desnecessários, podem ser informações que te atrapalhem no processo seletivo, já que o empregador pode achar que por você ter um visto temporário ele(a) não tem garantia de que você vai permanecer no país por um longo período e de que ele(a) vai conseguir te reter. Idade e gênero também são informações desnecessárias em um currículo.
Colocar foto é bom ou ruim?
Sobre o uso de foto no currículo, Ana Gabriela diz que gosta de foto no currículo por considerar que dá mais personalidade ao CV e o torna mais memorável, o que pode ser bom. Mas ao mesmo tempo, algum recrutador pode pensar diferente e achar que a foto no currículo pode parecer “não-profissional” dependendo da vaga à qual você está se candidatando.
“Então, sobre colocar ou não a foto no currículo você deve avaliar se tem uma foto adequada à vaga à qual está aplicando e se vale colocar uma foto no seu CV para ter sucesso naquela vaga específica”, pontua Gabi.
Ela diz que para vagas que envolvem criatividade ou atendimento ao consumidor, por exemplo, colocar a foto pode ser algo positivo. Já para vagas mais corporativas, é bom levar em consideração que na foto, se for colocar, você deve estar se vestindo de acordo com as normas da empresa ou da indústria, para não correr o risco de não parecer profissional.
Objetivo profissional
O título da segunda parte do currículo pode variar bastante. “Objetivo”, “Objetivo Profissional” e “Objetivo de Carreira” são algumas das opções, ou em inglês “Professional Statement”, “Personal Summary”.
“Essa é a parte onde você se apresenta e conta um pouco sobre você para os empregadores. Mas é importante selecionar as informações que você vai colocar nessa parte do currículo”.
Segundo Gabi, é importante que as informações não sejam genéricas. Elas devem ter relação com a vaga à qual você está se candidatando. “Essa é uma seção do currículo que você vai precisar refazer para cada vaga que for aplicar”.
Nessa seção, você tem que responder três perguntas:
“Por que está aplicando para essa vaga?”, ou seja, como as suas experiências profissionais, a sua educação, as suas habilidades e conhecimento te tornam o candidato ideal para a vaga? Isso de forma curta e objetiva, que é como deve ser um currículo. Você só vai se aprofundar nas informações na carta de apresentação e depois nas entrevistas.
A segunda pergunta que você deve responder nessa parte do currículo é “Por que essa empresa?”, em que você vai explicar por que razões quer trabalhar naquela empresa e não em outras do mesmo ramo.
“Quanto mais específico(a) você for, melhor impressão vai causar. Pesquise a empresa na internet, olhe o site deles, a presença nas mídias sociais e tente achar mais especificamente o que faz você querer trabalhar com eles e não com outras empresas”.
E a terceira pergunta a ser respondida aqui é “Como você se vê em cinco anos dentro da empresa?”, que é pra explicar de que forma você espera crescer, se desenvolver, conquistar seus objetivos de carreira e se manter na empresa. Tudo isso de forma resumida, nada muito detalhado.
Experiência profissional
Na seção do currículo em que você vai descrever as experiências profissionais que teve até agora, é preciso colocar o nome da empresa, seu cargo na empresa, o período em que você trabalhou naquele local, suas principais responsabilidades e os resultados (achievements) gerados pelo seu trabalho.
“É fundamental colocar nessa parte do currículo quais foram os resultados que você conquistou com o seu trabalho nas suas experiências profissionais anteriores, porque é isso que determina a qualidade das suas experiências trabalhistas anteriores”.
Ela reforça que “a experiência de trabalho por si só não significa nada para os empregadores porque você só está falando que trabalhou, mas não qual foi a qualidade do seu trabalho e se foi uma boa experiência para os empregadores ou que tipo de resultado você levou para a empresa, os clientes e a equipe”.
Nessa parte dos “achievements” (resultados) a Ana Gabriela diz que é importante descrever situações pelas quais você passou e coisas que você fez, além, é claro, dos resultados positivos dessas ações, que são fundamentais nessa parte do currículo. “Melhor ainda se você tiver números para apresentar que comprovem esses resultados”.
Mas a Gabi chama a atenção para o fato de que algumas pessoas colocam os resultados (‘achievements’ ou ‘main achievements’) em destaque no começo do currículo, o que, segundo ela, não é o ideal.
“Os resultados obtidos por você nos seus trabalhos anteriores devem vir descritos na parte do currículo em que você fala da sua experiência profissional porque assim essa informação estará contextualizada e será absorvida mais facilmente pelo gerente de contratação da empresa”.
Ela também diz que é importante sempre priorizar as informações contidas no currículo. “Caso você tenha exercido muitas funções na mesma empresa ou tenha tido muitas responsabilidades dentro da mesma função, em vez de listar todas elas e deixar aquele campo muito extenso, priorize colocar as informações que sejam mais relevantes para a vaga à qual está se candidatando”.
Quanto a experiências de trabalho que você tenha tido que não tem relação com a sua formação acadêmica, ou que sejam mais técnicas, Ana Gabriela diz que elas também são relevantes e que devem ser colocadas no seu currículo, pois “toda experiência trabalhista te dá a possibilidade de usar as habilidades transferíveis”.
Saiba mais sobre as habilidades transferíveis no próximo tópico.
O que colocar no currículo quando não se tem experiência anterior em determinada função
Ana Gabriela destaca a importância das ‘transferable skills’ (habilidades transferíveis) que podem ser colocadas no currículo quando você se candidatar a uma vaga em que não tem experiência, o que significa “usar suas experiências anteriores para demonstrar habilidades relevantes para a vaga que você está aplicando”.
Se você quer iniciar uma carreira como chef de cozinha na Austrália mas nunca trabalhou com isso antes, pode colocar no currículo habilidades em experiências anteriores que demonstram sua capacidade de trabalhar sob pressão, colaborar com outras pessoas, usar a criatividade, oferecer assistência ao consumidor e conhecimento em segurança do trabalho, já que são habilidades relevantes para quem trabalha na cozinha.
Experiência de voluntariado
“Na Austrália os empregadores valorizam muito a experiência que um candidato tem de voluntariado, então se você tem essa experiência, acrescente no seu CV”, destaca Ana Gabriela.
Gabi também diz que “essa é uma ótima maneira de demonstrar seus valores pessoais, engajamento com a comunidade, comprometimento, e experiências pelas quais você talvez ainda não tenha passado nos seus trabalhos remunerados”.
Quanto à estrutura desse campo, Gabi diz que a estrutura deve ser a mesma que você usou no campo de experiências de trabalho, com pontos (bullet points) das responsabilidades principais e resultados (achievements).
Habilidades
Segundo Ana Gabriela, quando falamos das nossas habilidades no currículo, é importante que a gente prove que tem essas habilidades através de exemplos da vida real, situações que vivemos nos trabalhos anteriores e seus resultados positivos.
“Qualquer pessoa pode colocar no currículo que é excelente ou muito bom(boa) em alguma habilidade específica. Isso não é algo em que os empregadores vão necessariamente acreditar. O que vai fazer com que você realmente demonstre aquela habilidade é falar de uma experiência que você teve que te permitiu usá-la e conquistar um bom resultado”.
Ordem de informações no currículo
Ana Gabriela diz que a ordem das informações contidas no currículo pode variar e precisa estar diretamente relacionada com a prioridade de cada informação para a vaga e/ou profissão.
Ela cita, por exemplo, o caso de um(a) fisioterapeuta que precisa obrigatoriamente ter formação para aplicar para uma vaga nessa área. “Nesse caso, o campo “formação/education” deve vir logo no começo do currículo, antes mesmo da experiência profissional da pessoa e após as informações de contato (cabeçalho) e o ‘professional statement’ (objetivo profissional)”.
Um outro exemplo que a Gabi dá é para quem está se candidatando a uma vaga no setor de vendas, em uma loja. “Nesse caso a formação não é tão importante, então ela pode vir depois da experiência profissional”. Ou seja, isso depende do trabalho para o qual você está se candidatando.
Segundo Ana Gabriela, cursos extras (extracurriculares) que você tenha feito devem ser colocados no currículo se forem relevantes para a vaga, mas podem ser inseridos no final do currículo já que não fazem parte dos requisitos exigidos.
Profissionais que tenham artigos publicados devem avaliar se essa informação é relevante para a vaga à qual estão se candidatando para decidir se colocam ou não essa informação no currículo.
“Você pode se perguntar se o empregador vai se beneficiar do fato de que você publica artigos científicos, pois se não for esse o caso, essa informação pode até te atrapalhar caso o empregador se questione se você quer mesmo atuar na indústria ou no meio acadêmico”, pontua Ana Gabriela.
Gabi sugere que quem acha relevante colocar no currículo os artigos publicados, coloque-os após as experiências de trabalho.
Referências
Na seção de referências no currículo, a Ana Gabriela enfatiza que não é necessário informar os nomes e contatos das referências profissionais que você tem. “Mantenha esse campo, mas apenas diga que tem excelentes referências disponíveis e que pode fornecer os contatos caso o empregador solicite”.
Gabi diz que essa é uma boa estratégia pois te dá um pouco mais de controle sobre a situação, já que os empregadores terão que fazer contato com você para pedir as referências, e assim você vai saber se eles realmente estão interessados no seu perfil.
“Esse é um sinal muito positivo em um processo de seleção porque hoje é uma formalidade ligar para as referências, e quando chega nesse ponto, é muito improvável que você não consiga o emprego”.
A exceção, segundo Ana Gabriela, é quando “na divulgação da vaga o empregador especifique que é necessário colocar as informações das suas referências no seu currículo. Mas isso é muito improvável que aconteça”, ela afirma.
Template e visualização do currículo
Quando uma vaga de trabalho é anunciada por uma empresa, geralmente muitos currículos de vários candidatos à vaga são enviados à empresa. Por isso, é importante que seu currículo seja claro, de fácil visualização com informações realmente relevantes.
Ana Gabriela destaca que “escolher um template bom é um excelente passo para iniciar seu currículo. Tem que ser fácil de enxergar a informação, não pode estar ‘bagunçado’. Deve maximizar o seu uso de espaço nas folhas para você evitar ter dez páginas de CV”.
Gabi também lembra que é importante que você facilite a leitura do seu currículo por softwares, já que muitas empresas recorrem a esse método. “A primeira seleção dos candidatos pode ser feita por um aplicativo, usado pela maior parte das empresas hoje em dia. O template do seu currículo deve facilitar que o software o leia, pois pode acontecer de você ser descartado de um processo seletivo só porque o formato do seu CV não permitiu que o aplicativo o lesse”.
Entre os exemplos que a Ana Gabriela cita de formatos inapropriados para que um currículo seja lido por um software estão o conteúdo dividido em duas colunas e círculos destacando determinadas informações. “Texto justificado também deve ser evitado porque os espaços extras criados pela justificação de texto dificultam a leitura dos softwares, principalmente as versões mais antigas. Então eu aconselho que se deixe o texto alinhado à esquerda”.
Dependendo do campo do currículo e do que você está descrevendo nele, como por exemplo, as principais atividades exercidas em uma determinada função que você teve em um trabalho anterior, pode ser importante a utilização de “pontos (bullet points)” para cada atividade, pois a falta desses pontos vai dificultar a visualização dessa informação. “Se você vai utilizar os ‘bullet points’, use a versão mais simples deles, para não dificultar a leitura”.
Gabi conclui dizendo que “quando se trata de template, menos é mais, o que não significa que você não possa usar uma fonte maior com uma cor diferente para o seu nome ou usar linhas coloridas para separar os campos do currículo. Você só deve cuidar para não dificultar a leitura do software, o que pode gerar a sua exclusão do processo seletivo”.
Sobre o formato do currículo, Ana Gabriela lembra que ele deve ser enviado sempre em PDF para não haver problema de leitura ou formatação.
Escolha das palavras
Quando for preparar o seu currículo em inglês, a Ana Gabriela orienta que você escolha com cuidado as palavras que vai usar.
Um exemplo é você usar “idioms” para informar os idiomas que você fala, em vez da palavra “languages”, mais comumente usada.
Se possível, peça para uma pessoa que seja fluente no inglês ou que entenda de currículos para traduzir para você ou revisar o seu currículo antes de enviá-lo para a empresa/empregador.
Idiomas
Por falar em idiomas, se você quer colocar no seu currículo que fala outras línguas, o ideal, segundo Ana Gabriela, é que essa sua habilidade técnica seja demonstrada com exemplos da vida real, quando você usou o seu conhecimento de outros idiomas e conquistou resultados positivos com isso.
É importante colocar por exemplo a nota que você tirou em um teste de proficiência na língua, cursos que você fez naquela língua e experiências de trabalho em que você utilizou o conhecimento no idioma e teve resultados positivos.
“Não adianta você, por exemplo, dizer que tem o nível de inglês intermediário e não provar isso de forma prática. Por isso é importante dar exemplos da vida real em que você teve a oportunidade de utilizar aquela habilidade e ter um resultado positivo”, explica Gabi.
Quantas páginas pode ter o currículo?
Gabi diz que o ideal é manter o CV o mais curto possível, apenas com as informações mais relevantes para a vaga à qual a pessoa está se candidatando.
“Mas isso não significa que precisa ter uma ou duas páginas, e que não pode ter cinco páginas. Um recém-graduado vai ter um currículo bem mais curto do que quem tem dez anos de experiência profissional. Então o tamanho do currículo não importa tanto quanto à qualidade das informações que você coloca ali”, destaca Ana Gabriela.
Ela diz que cada ‘pedacinho’ de informação que você coloque no seu CV deve ser estritamente importante para a vaga que você está aplicando. “A não ser que eles especifiquem no anúncio da vaga que eles querem no máximo duas páginas de currículo e uma página de cover letter (carta de apresentação). Nesse caso você deve seguir as instruções deles”.
E completa: “Se você tem três, quatro páginas de bons motivos pelos quais eles devem te contratar, por que esse (o número de páginas) seria um problema?”
Como ter sucesso em vagas que não solicitam o currículo
A Ana Gabriela lembra que para alguns tipos de vagas de trabalho não é necessário enviar currículo ou carta de apresentação, como por exemplo trabalhar com limpeza ou em obras na construção civil. “Para algumas dessas vagas o empregador vai preferir conversar com você e ver se você vai ser uma boa adição para a equipe”.
Nesses casos, segundo Gabi, o mais importante é “investir o seu tempo em criar relacionamento com pessoas que trabalham nessa indústria e demonstrar interesse na área em que quer atuar através de grupos de Facebook, por exemplo. A partir do momento em que você vai ganhando mais experiência naquela área e começa a aplicar para trabalhos mais formais, aí você já vai ter como colocar isso no currículo, caso seja exigido”.
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